Feito por: Camila Lopes e Laís Tabosa
Descrição
Cirrus é uma palavra vinda do latim que significa fios de cabelo e por essa nomenclatura pode-se inferir uma das características dessa nuvem que é o fato de elas serem finas.¹ Outras características são o aspecto fibroso e brilhoso. Este último acontece porque as mesmas são formadas por cristais de gelo. Neste caso, ou o vapor d’água deposita-se em um núcleo de condensação de gelo (IC) ou gotas super resfriadas são congeladas ao atingirem níveis acima de 0°C.
As nuvens cirrus estão localizadas na alta troposfera a mais de 5000m nas regiões extratropicais e a mais de 6000m na região tropical. Podem aparecer sozinhas ou em grupos, sendo que quando este último acontece pode-se comumente associá-las com mudanças no tempo como, por exemplo, a chegada de uma frente fria ou um ciclone tropical.²
Possíveis origens
Nuvens cirrus podem ser formadas devido a:- Forte turbulência associada a um cisalhamento do vento
- Convecção em camadas instáveis na alta troposfera
- Dissociação de nuvens altas como altocumulus ou cirrocumulus
- Ventos na alta troposfera que transportam cristais de gelo do topo de nuvens cumulonimbus formando o que denomina-se como bigorna
Como é identificada em imagens de satélite
As nuvens cirrus podem ser vistas e analisadas fazendo-se a
composição das informações adquiridas nos diversos canais. Isso ocorre porque
essa modalidade de nuvem não aparece de forma clara nos mesmos.
Visivel
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Figura 1 - Em c e u, a presença de várias modalidades de cirrus no canal do visível.³ |
No canal do visível pode-se encontrar todas as nuvens. No
caso da cirrus está aparecerá bem brilhante devido ao conteúdo de gelo que
apresenta alta refletância, que é a medida quantificada pelo satélite. No
entanto, devido a sua pouca espessura esta não aparecerá de forma tão nítida
como as outras modalidades de nuvens.
Infravermelho
Figura 2 - Em u e c, a presença de várias modalidades de cirrusno canal do infravermelho.³ |
No canal do infravermelho a cirrus aparecerá branca,
indicando que são nuvens frias.
Vapor d’água
Figura 3 - Em u e c, a presença de várias modalidades de cirrusno canal do vapor d'água.³ |
Neste canal as mesmas não estarão presentes de forma nítida porque não são formadas por gotas liquidas, ou seja, não possuem umidade.
Tipos
As principais formas são:
- Filosus ou Fibratus – Várias nuvens cirrus que cobrem o céu sem formar uma camada contínua, não aumentam em quantidade e não tem uma direção preferencial. Em geral, indicam um estágio degenerado de cirrus e são observados distantes de convecções
- Uncinus – Cirrus em forma de anzóis que aumentam em quantidade com o tempo. Estão relacionados com jatos de altos níveis (JAN) e o anzol indica o cisalhamento vertical do vento devido ao jato. Podem indicar a aproximação de uma frente fria principalmente se forem seguidas de cirrostratus
- Spissatus – Cirrus que estão associados a cumuloninbus. Indicam a aproximação de convecção
------------------------------------------------ Exemplo: 17/08/2015 10h30 UTC -----------------------------------------------
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Figura 4 - Registro da presença de Cirrus na Cidade Universitária (17/08/2015 às 7h30 - hora local). Foto tirada por Camila Lopes. |
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Figura 5 - Imagens de satélite (canais IR - esquerda e WV - direita) do dia 17/08/2015 10h30 UTC. Fonte: CPTEC |
Classificação
Observando as imagens de satélite (Figura 5), percebe-se a presença de uma faixa relativamente extensa de cirrus, sem nenhum sistema de grande escala atuando em São Paulo. Assim, a espécie identificada é cirrus fibratus.
Situação sinótica
Nas estações meteorológicas de superfície próximas ao local onde a nuvem foi avistada (Aeroporto de Congonhas e Parque CienTec - Tabela 1), apenas a estação do IAG identificou cirrus, que ocupou todo o céu às 10h UTC. Os ventos estavam calmos, na direção sudeste-noroeste, e a pequena diferença entre as temperaturas indica umidade relativa alta.
Os perfis verticais de temperatura e temperatura do ponto de orvalho (Figura 6) não mostram diretamente a altura da nuvem (talvez por ela não estar presente no local) - uma altura estimada seria entre 350 e 300hPa. Os índices de instabilidade (Tabela 2) indicam condições estáveis, sem probabilidade de formação de tempestades, o que reforça a espécie determinada na classificação.
Em altos níveis (Figura 7), há a presença dos 3 jatos: o subtropical, entre 15°S e 40°S, é bifurcado em 65°W, com uma crista na seção mais ao norte (no Oceano Atlântico) e um centro de baixa pressão logo ao sul da bifurcação, enquanto que os ramos norte e sul do jato polar se mostram juntos no Oceano Atlântico. Um centro de alta pressão encontra-se no norte do Brasil.
Enquanto que no nível de 500hPa (Figura 8) as Altas Subtropicais do Atlântico e Pacífico Sul estão acopladas a uma baixa à noroeste, em níveis mais baixos (Figuras 9 e 10) esse padrão não acontece. Em superfície, uma frente fria associada a um centro de baixa pressão fora dos limites do mapa começa a adentrar o continente a partir do sul da Argentina, longe de causar efeitos em São Paulo, onde há um cavado.
Tabela 1 - Dados de estações meteorológicas próximas.
Fonte
|
Estação
|
Hora
(UTC)
|
Vento
|
T (°C)
|
Td
(°C)
|
p
(hPa)
|
Cobertura
de Nuvens
|
|||
Direção
(°)
|
Velocidade
(m/s)
|
Baixas
(déc)
|
Médias
(déc)
|
Altas
(déc)
|
||||||
METAR
|
83780
|
10
|
150
|
1,5
|
15
|
13
|
1025*
|
-
|
-
|
-
|
11
|
90
|
1,5
|
17
|
13
|
1025*
|
-
|
-
|
-
|
||
SYNOP
|
83780
|
12
|
70
|
3,6
|
19,3
|
11,9
|
932,2
|
-
|
-
|
-
|
IAG
|
83004
|
10
|
-
|
-
|
13,3
|
12,9**
|
931,6
|
-
|
-
|
Ci
(10)
|
11
|
-
|
-
|
16,2
|
15,1**
|
931,9
|
-
|
-
|
Ci
(2)
|
* Pressão reduzida ao nível médio do mar ** Temperatura de bulbo úmido
Figura 6 - Radiossondagem feita no Campo de Marte
no dia 17/08/2015 às 12Z.
Fonte: University of Wyoming
|
Tabela 2 - Índices de Instabilidade obtidos através da radiossondagem.4,5
Índice
|
Significado
|
|
Showater
|
6,63
|
Tempestades improváveis
|
Lifted
|
6,33
|
Condições muito estáveis
|
K
|
-15,3
|
Probabilidade de ocorrência de
tempestade nula
|
Totals totals
|
37,2
|
Tempestades improváveis
|
CAPE
|
0
|
Marginalmente instável
|
CINE
|
0
|
Os perfis verticais de temperatura e temperatura do ponto de orvalho (Figura 6) não mostram diretamente a altura da nuvem (talvez por ela não estar presente no local) - uma altura estimada seria entre 350 e 300hPa. Os índices de instabilidade (Tabela 2) indicam condições estáveis, sem probabilidade de formação de tempestades, o que reforça a espécie determinada na classificação.
Análise sinótica
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Figura 7 - Análise no nível de 250hPa do dia 17/08/2015 às 12Z. |
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Figura 8 - Análise no nível de 500hPa do dia 17/08/2015 às 12Z.
Fonte: Análise do GFS |
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Figura 9 - Análise no nível de 850hPa do dia 17/08/2015 às 12Z. Fonte: Análise do GFS |
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Figura 10 - Análise em superfície do dia 17/08/2015 às 12Z.
Fonte: Análise do GFS
|
Em altos níveis (Figura 7), há a presença dos 3 jatos: o subtropical, entre 15°S e 40°S, é bifurcado em 65°W, com uma crista na seção mais ao norte (no Oceano Atlântico) e um centro de baixa pressão logo ao sul da bifurcação, enquanto que os ramos norte e sul do jato polar se mostram juntos no Oceano Atlântico. Um centro de alta pressão encontra-se no norte do Brasil.
Enquanto que no nível de 500hPa (Figura 8) as Altas Subtropicais do Atlântico e Pacífico Sul estão acopladas a uma baixa à noroeste, em níveis mais baixos (Figuras 9 e 10) esse padrão não acontece. Em superfície, uma frente fria associada a um centro de baixa pressão fora dos limites do mapa começa a adentrar o continente a partir do sul da Argentina, longe de causar efeitos em São Paulo, onde há um cavado.
Evento meteorológico associado
Acredita-se que a cirrus identificada estava associado a um Sistema Convectivo de Mesoescala (SCM). Nas imagens de satélite (Figura 14), observou-se a formação de um SCM em 16/08 no nordeste da Argentina.
A hipótese é baseada nas seguintes características:
- Havia uma bifurcação do Jato Subtropical (Figura 7) em 26°S-55°W (mesmo local do SCM), o que favorece a convecção
- Gradiente de espessura e advecção de ar quente (Figura 11)
- Existência do Jato de Baixos Níveis (Figura 12)
- Convergência de umidade em superfície (Figura 13)
Pelas imagens de satélite, notou-se que o SCM tinha o formato assimétrico, diferentemente de um Complexo Convectivo (CCM) (que tem um aspecto arredondado) ou de uma linha de instabilidade, que inclusive se formou no dia 18/08.
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Figura 11 - Espessura entre 500 e 1000hPa e advecção de temperatura em 850hPa no dia 17/08/2015 às 12Z. Fonte: Análise do GFS |
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Figura 12 - Magnitude do vento em 850hPa no dia 17/08/2015 às 12Z. Fonte: Análise do GFS |
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Figura 13 - Altura geopotencial, divergência de umidade e linhas de corrente em 1000hPa no dia 17/08/2015 às 12Z. Fonte: Análise do GFS |
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Figura 14 - Loop de imagens de satélite (canal IR realçado) do período entre 16/08 (00Z) e 18/08/2015 (23Z). Fonte: CPTEC |
Referências
[2] http://www.masterantiga.iag.usp.br/ensino/Sinotica/AULA05/AULA05.HTML - consultado em outubro de 2015.
[3] http://www.dca.iag.usp.br/www/material/rachel/ACA0413/ACA0413%20-20AULA%2003%20-%20Interpreta%C3%A7%C3%A3o%20de%20imagens.pdf - consultado em setembro de 2015.
[3] http://www.dca.iag.usp.br/www/material/rachel/ACA0413/ACA0413%20-20AULA%2003%20-%20Interpreta%C3%A7%C3%A3o%20de%20imagens.pdf - consultado em setembro de 2015.
[4] http://itg1.meteor.wisc.edu/wxwise/AckermanKnox/chap11/TW_Index.html - consultado em outubro de 2015.
[5] http://www.theweatherprediction.com/severe/indices/ - consultado em outubro de 2015.
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