Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS)
Organizado por: Dante Campagnoli Napolitano
Avaliado por: Vannia Jaqueline Aliaga Nestares (18/06/2015)
Definição:
Organizado por: Dante Campagnoli Napolitano
Avaliado por: Vannia Jaqueline Aliaga Nestares (18/06/2015)
- "Máximo local em nebulosidade, precipitação e convergência de baixos níveis que ocorre numa faixa de orientação NW-SE que se estende pelo sudeste do Brasil ao Atlântico Sudoeste " - American Meteorological Society
- Nota: diversos autores consideram a ZCAS estendendo-se desde a região amazônica, e não apenas "across southeastern Brazil", como na definição da AMS. (Ferreira et. al. 2004, Pesquero et. al. 2010).
Características e Identificação:
Características propícias para a formação da ZCAS, segundo Kodama, (1992):
Características propícias para a formação da ZCAS, segundo Kodama, (1992):
- Vento quente e úmido da região amazônica em direção às altas latitudes.
- À leste de cavados semi-estacionários.
- Presença do Jato Subtropical em altas latitudes, que penetra nos subtrópicos em ~25°S.
- Ao contrário da Zona de Convergência do Pacífico Sul (ZCPS), a ZCAS é mais intensa no verão (AMS, 2015).
- Intensidade, forma e persistência podem variar durante o verão (Carvalho et al, 2002).
- Ventos gerados entram na porção sudoeste da Alta do Atlântico Sul em baixos níveis (Kodama, 1992).
Interações:
Importância:
Identificação:
- A ZCAS pode ser influenciada pela confluência entre os ventos de NE do Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul (ASAS), que transportam calor e umidade do oceano Atlântico para o interior do Brasil, e o Jato de Baixos Níveis (JBN) a leste dos Andes que transporta calor e umidade da região amazônica para o sudeste da América do Sul (Reboita et. al., 2010, Fig. 1).
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Figura 1. Representação esquemática dos sistemas atmosféricos na baixa troposfera. Foco atual: ZCAS, ASAS, JBN e Complexos Convectivos de Mesoescala (CCM) (Fonte: Reboita et. al., 2010). |
- Eventos El Niño tendem a mover a ZCAS para o oceano, diminuindo a precipitação sobre o continente, enquanto eventos "La Niña" favorecem a ZCAS sobre o continente (Carvalho et al., 2004).
- Chaves & Nobre (2004, Fig. 2) afirmam existir uma relação entre situações anômalas (quentes) de temperatura de superfície do mar (TSM) e a intensificação da ZCAS.
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Figura 2. Comportamento da ZCAS em (a) Situação normal; (b) Anomalia negativa de TSM; (c) Anomalia positiva de TSM (Fonte: Chaves & Rodrigues, 2004). |
- Possivelmente intensificada pelo transporte de energia por ondas longas da ZCPS (Casarin & Kousky, 1986).
- Influenciada pela presença de um vórtice ciclônico (intensificação) ou anticiclônico (enfraquecimento) sobre o continente (Mechoso et al., 2005, Fig. 3).
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Figura 3. Intensificação da ZCAS na presença de ciclone (Fonte: Mechoso el. al., 2005).
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Importância:
- Importante papel na quantidade anual de precipitação do Sudeste do Brasil (Carvalho et al, 2002), como mostra a figura 4.
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Figura 4. Precipitação média anual 1979-1995 (fonte: Reboita et. al., 2010). |
- Períodos de aumento de atividade na ZCAS são associados com precipitação em excesso no sudeste/ costa sul do Brasil e condições de seca mais ao sul (Norte da Argentina, Paraguai e Uruguai). Condições simétricas (porém opostas) prevalecem em períodos de baixa atividade da ZCAS (Garreaud et. al., 2009).
- Relacionada ao Sistema de Monções da América do Sul (Jones & Carvalho, 2002; Zhou & Lau, 1998; Mechoso et al., 2005).
- Anomalias negativas de TSM podem representam uma resposta oceânica à uma intensa ZCAS (Chaves & Nobre, 2004).
Identificação:
- (1) Composição de imagens de satélite de vapor d'água, pela banda de nebulosidade NW-SE.
- (2) Presença da Alta da Bolívia (AB) e do Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN) (Seabra et al. 2006).
- (3) Análise de Ômega níveis médios. (Seabra et al. 2006).
- (4) Convergência na baixa e média troposfera; Divergência na alta troposfera (Kodama, 1992).
- (5) Padrões de distribuição de radiação de onda longa emergente, onde baixos níveis de radiação seriam um indicativo da presença da ZCAS (Kousky, 1988)
Exemplos:
1. ZCAS identificada pela banda de nebulosidade NW-SE (Fig. 5).
1. ZCAS identificada pela banda de nebulosidade NW-SE (Fig. 5).
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Figura 5. Exemplo de ZCAS em imagem de satélite (Fonte: http://zeweather.blogspot.com.br/2013/01/frente-fria-vs-zcas.html). |
2. ZCAS identificada pela divergência em altos níveis e a presença da AB e do VCAN (Fig. 6).
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Figura 6. Exemplo de ZCAS entre um VCAN e uma AB no mapa de divergência de alto nível. (Seabra et al., 2006). |
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Figura 7. Exemplo de ZCAS em um mapa da Equação Ômega (em qual nível?) (Seabra et al., 2006). |
4. ZCAS identificada pelos valores negativos de divergência (convergência) em baixos níveis e divergência em altos níveis (Fig. 8).
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Figura 8. Exemplo de ZCAS em uma seção vertical de divergência (Kodama,1992). |
5. ZCAS identificada pelos padrão de distribuição de radiação de onda longa emergente (OLR, Fig. 9).
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Figura 9. Exemplo de ZCAS em um mapa climatológico de emissão de radiação de ondas longas (fonte: Kousky, 2013. Seasonal Cycle, Monsoons and Tropical Convergence Zones.) |
Exemplo 2 (Sugestão Vania):
Este é um exemplo da ZCAS ocorrida entre o 25 e 29 de março de 2013, segundo notícia do CPTEC.
1. ZCAS identificada pela banda de nebulosidade NW-SE no canal infravermelho de imagem de satélite (fig. 10).
Observa-se uma ZCAS com duração de 5 dias e com uma banda de nebulosidade estendendo-se desde AM até o Atlântico próximo à costa de SP (no ínicio) e de RJ e ES (nos últimos dias).
2. ZCAS identificada pela divergência em altos níveis e a presença da AB e do VCAN (Fig. 11)
Nota-se a coexistência da AB e VCAN desde o segundo até o quarto dia da ZCAS, mas a região de divergência com orientação NW-SE manifesta-se todos os dias.
3. ZCAS identificada pelas anomalias negativas de ômega em 500 hPa (movimento ascendente) na direção NW-SE (Fig. 12).
A anomalia média de omega com valor negativo orientada com sentido NW-SE permite identificar a ocorrência da ZCAS pelo movimento vertical ascendente, o qual caracteriza a região de convecção a ela associada.
Na figura 13 observa-se o padrão divergente nos níveis altos e convergente nos níveis baixos na maioria dos períodos da animação.
4. ZCAS identificada pelos valores negativos de divergência (convergência) em baixos níveis e divergência em altos níveis.
5. ZCAS identificada pelos padrão de distribuição de radiação de onda longa emergente (OLR). O padrão de OLR com valores baixos também tem a orientação NW-SE típico da ZCAS, o que permite verificar a existência desta nesta região (Fig. 14).
Zhou, J. & K. Lau. 1998. Does a Monsoon Climate Exist over South America?. J. Climate, 11:1020-1040.
Este é um exemplo da ZCAS ocorrida entre o 25 e 29 de março de 2013, segundo notícia do CPTEC.
1. ZCAS identificada pela banda de nebulosidade NW-SE no canal infravermelho de imagem de satélite (fig. 10).
Observa-se uma ZCAS com duração de 5 dias e com uma banda de nebulosidade estendendo-se desde AM até o Atlântico próximo à costa de SP (no ínicio) e de RJ e ES (nos últimos dias).
2. ZCAS identificada pela divergência em altos níveis e a presença da AB e do VCAN (Fig. 11)
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Figura 11: Divergência e vento em 200 hPa. A divergência (tons de vermelho) e a convergência (tons de azul), além de identificação de AB e VCAN. (Fonte: Análise do modelo GFS) |
3. ZCAS identificada pelas anomalias negativas de ômega em 500 hPa (movimento ascendente) na direção NW-SE (Fig. 12).
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Figura 12: Anomalias médias de omega em nível médio da troposfera para os dias entre 25 e 29 de março de 2013 (Fonte: Reanalises da NOAA http://www.esrl.noaa.gov/psd/data/composites/day/). |
Na figura 13 observa-se o padrão divergente nos níveis altos e convergente nos níveis baixos na maioria dos períodos da animação.
4. ZCAS identificada pelos valores negativos de divergência (convergência) em baixos níveis e divergência em altos níveis.
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Figura 13: Animação do perfil vertical de divergência na coluna atmosfêrica da ZCAS. Vermelho (divergência), azul (convergência) (Fonte: Análise do modelo GFS). |
5. ZCAS identificada pelos padrão de distribuição de radiação de onda longa emergente (OLR). O padrão de OLR com valores baixos também tem a orientação NW-SE típico da ZCAS, o que permite verificar a existência desta nesta região (Fig. 14).
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Figura 14: OLR médio desde o 25 até 29 de março de 2013. Valores mais baixos representam regiões com nebulosidade (Fonte: Reanalises da NOAA http://www.esrl.noaa.gov/psd/data/composites/day/). |
Referências:
American Meteorological Society, cited 2015: South Atlantic Convergence Zone. Glossary of Meteorology. [Available online at http://glossary.ametsoc.org/wiki/south_atlantic_convergence_zone]
Carvalho, L. M. V.; C. Jones; & B. Liebmann. 2002. Extreme Precipitation Events in Southeastern South America and Large-Scale Convective Patterns in the South Atlantic Convergence Zone. J. Climate, 15:2377-2394
Carvalho, L. M. V.; C. Jones; & B. Liebmann. 2004. The South Atlantic Convergence Zone: Intensity, Form, Persistence, and Relationships with Intraseasonal to Interannual Activity and Extreme Rainfall. J. Climate, 17:88-108.
Casarin,D.P. & V. E. Kousky. 1986. Anomalias de Precipitação no Sul do Brasil e Variações na Circulação Atmosférica. Rev. Bras. Meteo. 1:83-90.
CPTEC. web: http://www.cptec.inpe.br/noticias/noticia/23474
Chaves, R.R.; P. Nobre. 2004. Interactions between sea surface temperature over the South Atlantic Ocean and the South Atlantic Convergence Zone. Geophysical Research Letters, 31(L3204):1-4.
Ferreira, N. J.; M. Sanches; M. A. F. S. Dias. 2004. Composição da zona de convergência do atlântico sul em períodos de el niño e la niña. Rev. Bras. Meteo., 19(1):89–98.
Garreaud, R.D.; M. Vuille; R. Compagnucci; J. Marengo. 2009. Present-day South American climate. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, 281:180-195.
Jones, C. & M. V. Carvalho. 2002. Active and break phases in the South America monsoon system. J. Climate. 15:905-914
Kodama, Y. 1992. Large-scale commom features of subtropical convergence zones: the Baiu Frontal Zone, the SPCZ, and the SACZ. Part I: Characteristics of Subtropical Frontal Zones
Kousky, V. E. 1988. Pentad outgoing longwave radiation climatology for the South American sector. Rev. Bras. Meteo. 3:217-231.
Mechoso, C. R., A. W. Robertson, C. F. Ropelewski, and A. M. Grimm, 2005: Part B: Regional monsoon topics. The American monsoon systems: An introduction. WMO Tech. Doc. 1266 (TMRP Rep. 70), World Meteorological Organization, 197–206.
Pesquero, J. F.; C. A. Nobre; J. Marengo. 2010. Um sistema simples de identificação da zona de convergência do atlântico sul em rodadas longas de mudanças climáticas. Apresentado no XVI Congresso Brasileiro de Meteorologia, Belém, PA.
Reboita, M. S.; M. A. Gan; R. P. Rocha e T. Ambrizzi. 2010. Regimes de precipitação na América do Sul: Uma Revisão Bibliográfica. Rev. Bras. Meteo., 25(2):185-204.
Seabra, M. S.; C. H. E. D’ Almeida Rocha; W. F, Menezes. Comparação dos efeitos dos eventos ZCAS de janeiro de 2006 nas cidades do Rio de Janeiro e Brasília In: XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia, Florianópolis – SC. Anais do XIV Congresso Brasileiro de Meteorologia. SBMET, 2006.
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